segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

SEDE




Só o ócio pode nutrir. Se sou uma engrenagem, então vou rodar ciclicamente, até que a máquina morra. E é isso, então? Devo me resignar? Quase 100 anos depois do Chaplin? Se sou uma rebimboca da parafuseta, ou uma correia dentada que vai operando sem parar, não posso parar pra pensar. O chavão popular não diz "Pare e pense" à toa. Não importa do que meus nervos se alimentem, se de lama ou de pão com manteiga. Quero o banquete que não é o banquete de todos, e sem que com isso recaiam sobre mim, pesados como o aço, esses olhos cheios de pesar. Não importa se a feijoada me causa diarréia ou se o chocolate ataca minhas úlceras que dormem, a necessidade é pelo verbo, é necessário comer, seja lá o que for. Um prato de comida é a salvação para os famintos. Um prato sem sal, a salvação dos hipertensos. Um prato sem açúcar, a salvação dos diabéticos. Aos doentes um prato de comida pode ser mortal.
 Os substantivos são mal vistos, são luxo desnecessário, coisas de um playboy, coisas de um inútil. Não importa o quê você come, importa que come, dizem. Fodam-se. Fodam-se, definitivamente. Vou me alimentar das minhas operações pra ver se morro logo. E depois, ah depois eu vou encher a barriga com meus pratos favoritos e exóticos. Enquanto isso minha sede vai aumentando, vou comendo os amendoins, enchendo a boca com eles, sedento, testando minha sanidade, morrendo de sede. E mirando o copo de suco gelado que ainda não posso tocar. Ou já posso, caros senhores proprietários da minha alma?

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