Quando cavouco com o pé na areia,
percebo que também a areia representa,
como se fosse uma atriz com dotes naturais.
A areia clara esconde uma areia outra,
de robusta textura e profunda escuridão.
A areia outra que mora embaixo da areia,
tem outra natureza,
por privada dos toques do sol,
por esquecida,
por profunda,
por diferente,
por alheada.
Quando vejo todo o mosaico verde que pinta a montanha,
pressinto que também a mata virgem esconde terra escura
e folhas secas que um dia beberam a seiva elaborada
que só existe nos livros de ciências do colégio.
Quando o mar me beija
- e mesmo assim distante -,
sei que ele é a cobertura de um bolo.
E se o raspo com a colher infantil dos olhos,
puerilmente evitando a massa menos doce,
sei que o faço por cansaço do pensamento.
Mas mesmo negando num repente a inteireza,
sonho com o único silêncio mortal que guarda a vida,
o que contém o destino universal de estar vivo em um silêncio sepulcral:
o fundo do mar.
O fundo do fundo do mar, como meu pé,
também toca a areia,
e lá, a escuridão deve dar um medo danado.
Talvez os frutos do mar prefiram acabar fritos nos restaurantes
do que encarar essa fêmea senhorial que é a escuridão do fundo do fundo do mar.
E, como se essa convivência entre o raso e o profundo fosse singela aos olhos,
posto que a pureza da natureza é a mais possível a nós,
a tolerância é concedida aos homens
(mesmo que tê-la não saibam),
com ares feitos de resignação cósmica
e uma imensidão que cabe no bolso sem baixar o cós dos calções.
Quando essa resignação repousa em mim
assim grande e leve,
afirmando que harmonia é necessidade da vida,
ensinando que são inevitáveis as mãos para levar a água doce à boca,
ou,
se na falta delas,
as pernas ajoelhadas permitem a humildade do beijo da minha boca no riacho;
a tolerância que em mim sempre esteve não vista brilha
porque quer em mim ser.
Nessa fração atômica do tempo,
conduzo,
aqui dos ares salgados da praia e dos olhares cansados dos vendedores de churros,
o que de minha consciência o abstrato não usurpou,
deixando-me deitar aliviado sobre toda a existência,
com a mesma calma segura de um sexo com um velho amor.
Toda a vasta existência,
que existe como a areia e a mata e o copo que com água sacia minha sede com a força superficial das minhas mãos
(que por estarem aqui não requerem meus joelhos na beira de um rio),
toda essa vasta existência
tem a grandeza divina de poder simplesmente ser.
Pela absolvição da superfície.
Pelas necessidades mútuas que vem
da trama andrógina e harmônica entre o raso e o profundo.
percebo que também a areia representa,
como se fosse uma atriz com dotes naturais.
A areia clara esconde uma areia outra,
de robusta textura e profunda escuridão.
A areia outra que mora embaixo da areia,
tem outra natureza,
por privada dos toques do sol,
por esquecida,
por profunda,
por diferente,
por alheada.
Quando vejo todo o mosaico verde que pinta a montanha,
pressinto que também a mata virgem esconde terra escura
e folhas secas que um dia beberam a seiva elaborada
que só existe nos livros de ciências do colégio.
Quando o mar me beija
- e mesmo assim distante -,
sei que ele é a cobertura de um bolo.
E se o raspo com a colher infantil dos olhos,
puerilmente evitando a massa menos doce,
sei que o faço por cansaço do pensamento.
Mas mesmo negando num repente a inteireza,
sonho com o único silêncio mortal que guarda a vida,
o que contém o destino universal de estar vivo em um silêncio sepulcral:
o fundo do mar.
O fundo do fundo do mar, como meu pé,
também toca a areia,
e lá, a escuridão deve dar um medo danado.
Talvez os frutos do mar prefiram acabar fritos nos restaurantes
do que encarar essa fêmea senhorial que é a escuridão do fundo do fundo do mar.
E, como se essa convivência entre o raso e o profundo fosse singela aos olhos,
posto que a pureza da natureza é a mais possível a nós,
a tolerância é concedida aos homens
(mesmo que tê-la não saibam),
com ares feitos de resignação cósmica
e uma imensidão que cabe no bolso sem baixar o cós dos calções.
Quando essa resignação repousa em mim
assim grande e leve,
afirmando que harmonia é necessidade da vida,
ensinando que são inevitáveis as mãos para levar a água doce à boca,
ou,
se na falta delas,
as pernas ajoelhadas permitem a humildade do beijo da minha boca no riacho;
a tolerância que em mim sempre esteve não vista brilha
porque quer em mim ser.
Nessa fração atômica do tempo,
conduzo,
aqui dos ares salgados da praia e dos olhares cansados dos vendedores de churros,
o que de minha consciência o abstrato não usurpou,
deixando-me deitar aliviado sobre toda a existência,
com a mesma calma segura de um sexo com um velho amor.
Toda a vasta existência,
que existe como a areia e a mata e o copo que com água sacia minha sede com a força superficial das minhas mãos
(que por estarem aqui não requerem meus joelhos na beira de um rio),
toda essa vasta existência
tem a grandeza divina de poder simplesmente ser.
Pela absolvição da superfície.
Pelas necessidades mútuas que vem
da trama andrógina e harmônica entre o raso e o profundo.
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