quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

NOTAS SOBRE UMA PERERECA SEM PÊLOS


Passeando pela internet encontrei um site com imagens nada triviais. O não trivial me apraz uma barbaridade. Quando as imagens têm um significado superior para os meus nervos, chamo-as de imaginuras, uma adaptação da palavra iluminura que aprendi com o querido mestre Warat, que agora, enquanto escrevo, deve estar pescando uns peixes coloridos em alguma lagoa da dimensão seguinte, com um panamá fazendo sombra aos olhos e uma taça de malbec massageando a alma. Agora que morreu para esta vida, deve ter certeza de que esta vida é o tal inferno que pensamos estar no submundo.
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Entre as imagens nada triviais, encontrei a foto de uma perereca (sim, uma perereca dessas que as mulheres ganham quando nascem e que, nós homens, passamos a vida toda atrás). Gostei da perereca da foto. Toda misteriosa, lisa, sem pêlos (voltaremos em seguida ao tema “A RELAÇÃO ENTRE AS PERERECAS SEM PÊLO E A PEDOFILIA NA PÓS-MODERNIDADE”, mas fica, desde já, a dica pra título de tese de doutorado).
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Gostei da sensação amadora que a foto trazia. Parecia ter sido tirada com um celular de baixa resolução. Pude imaginar toda a cena que precedeu o momento em que a foto foi feita. Aqueles momentos preliminares, aqueles passeios pelos corpos. As conversas antes da dança do sexo. A textura dos lençóis roçando na bunda dela. Todos os joguinhos de sedução que as mulheres fazem até a porcaria da calcinha finalmente ir pro espaço.
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Cogitei que a foto pudesse ter sido tirada pela própria dona da perereca, no estilo “vou ver como minha perereca é, vista de baixo”, mas como gosto de inventar histórias – mesmo que elas não existam – preferi colocar um cara na minha confabulação especulativa.
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A foto mostrava um ambiente todo verdadeiro, uma perereca que escancarava, na imagem congelada, um momento de plena intimidade. Em geral os filmes pornô pecam porque, no fundo, não conseguem deixar transparecer o desejo verdadeiro da mulher. Mulher fingindo prazer é uma cena medonha. No fim das contas, quando se trata de sexo, as mulheres são as únicas que podem dar conotação de veracidade ao desejo. Os homens ficam de pau duro com qualquer revista pornô escrota de posto de gasolina, aquelas do tipo “FODENDO DUAS PRIMAS ARDENTES”. A foto que eu garimpei não tinha nada disso porque era dos melhores tipos de arte: a que retrata a vida em linhas exatas. Ao pornô falta a arte da vida real.
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Salvei a foto no computador, como faço com todas imaginuras que pesco das navegações na internet. Ontem, postei a foto com a poesia sobre o raso e o profundo. Pensando hoje, não sei o que pensei quando escrevi a poesia sobre o raso e o profundo, mas lembro que tive certeza de que a foto de uma perereca não tinha, de início, nada a ver com raso ou profundo. De início, porque depois, parecia ter sentido uma perereca como imagem de um texto sobre o raso e o profundo. Se não me fiz entender, paciência. To sem saco pra explicar.
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Bom, o que aconteceu foi que a tal foto causou um redevú (rendez vou, rendê e vu ou seja lá como se escreva essa merda de palavra emprestada do francês que significa algo próximo de confusão).
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Primeiro, tive quase certeza que minha namorada ia olhar pra foto e achar que eu tinha comido a perereca da fulana. Claro que salvei o site de origem da foto pra evitar um olho roxo posterior. Não confirmada (ou não externada) a desconfiança da patroa, recebi um email de uma amiga que estuda sobre crianças violentadas sexualmente, dizendo que a violência sexual contra crianças é uma realidade dolorida em nosso país.Disse que a perereca sem pêlo da foto parecia de uma criança e que, por isso, meu blog corria o risco de ser denunciado. Me disse para pensar por um instante (sabendo do meu ceticismo).
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Fiz o que ela mandou e, por um instante, me vi saindo algemado do edifício em que moro, no meio da madrugada, com o sono interrompido pela visita da polícia civil e seus capangas, vestindo camiseta branca amassada e um calção azul marinho confortável que uso desde 1998 pra dormir, com a imprensa toda em volta com aquela luz lancinante nos olhos, com todos os vizinhos olhando assustados pra mim e comentando em sussurros: “advogado é tudo ladrão mesmo, não adianta, raça maldita, e depois não querem que piadas, corja de canalhas”. Depois que o instante passou, a cena de filme passou.
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Percebi que a preocupação era exagerada, já que uma perereca adulta também pode não ter pêlos, o que, diga-se, é ótimo. Principalmente pra quem gosta de sexo oral. Perereca peluda e sexo oral tem uma relação muito íntima com o vômito. Não adianta dizer que o corte é ralo porque trata-se da textura e não do comprimento da grama. Esteja a grama alta ou baixa, os micuins sempre estão lá, esperando pelas nossas costas nuas. Com perereca e pêlos a coisa é mais ou menos igual.
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Os amigos quiseram saber de quem era a perereca, especulando sem êxito. Os inimigos devem ter pensado que a perereca em questão não era a perereca em questão. E a perereca continua lá, ou melhor, ali, rindo de todos nós. Quando as pererecas dão risada, o melhor é sair correndo. E isso vale para as carecas e as peludas.