sexta-feira, 12 de abril de 2013

in berejuk

Você olha em volta tentando encontrar a própria miséria, mas só vê paredes em paz, cachorros dormindo e pulgas sendo felizes. Você olha por dentro, vira uma mini gente que caminha no meio do músculo da carne humana, ou então se sente um micróbio pequeno como o nada, nadando no mar do suco gástrico que transforma tudo em merda. Mesmo assim sorrateiro não encontra a própria miséria. Então você resolve ir fundo, prescindir da matéria, e começa a acreditar no inconsciente, no cosmo, no raio que o parta, numa cruzada à caça da própria miséria, mas só encontra um oco mudo igual a um salão de baile em final de festa, quando as faxineiras que dormem e acordam cedo, começam a virar as cadeiras de pernas pra cima como se atirassem corpos numa forca da cadeira pra baixo. Fora ou dentro não há ninguém que possa dizer alguma coisa, nenhum mestre dos magos nem mesmo pra nos dar a direção errada do caminho. A direção errada, ah se a direção errada viesse sem esforço e caísse mortinha da silva no nosso colo! Pelo eliminaríamos alguma coisa dentre essas tantas. Pelo menos seria um rosto humano nu nesse eterno baile veneziano de máscaras. Todos temos o direito de ser senhores e proprietários da própria miséria. Mas Deus escondeu tanto o tesouro quanto a miséria em algum lugar impossível. Deus é um sacana, mas apenas um sacana, filho da puta seria demais. Os ateus mentem a si mesmos que não estão interessados nem na própria miséria, essa é a injeção diária de morfina deles. A oração é a morfina dos crentes. Mas ambos desejam a própria miséria: os primeiros negando o futuro, e os outros negando o presente. O ponto arquimédico do círculo onde transitam todos esses elétrons humanos, ninguém pode encontrar. E eu, que navego como Colombo por mares imaginados, cogito a miséria como o ponto vélico do mundo, como o triângulo das Bermudas, como o buraco negro que fechará as cortinas dessa grande palhaçada. Deus estará lá, brincando de ser Deus, com uma máscara do Bozo. Mas ele não é nem nunca será um filho da puta. Ele não nasceu no meio do sangue e das gororobas da placenta como todos nós. Ele é um deixado ao relento dentro de uma caixa de sapato numa parada de ônibus. A miséria dos que vivem é não poder parar: de perceber, de perquirir, de peregrinar.

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