domingo, 4 de novembro de 2012

vistas grossas ao que pulsa






A chamada antes de ouvir a voz dela era sempre precedida pela trindade do TÚ-TÚ-TÚ. Geralmente três TÚS previsíveis. Um sempre TÚ soa meio ansioso, adolescente. Dois TÚS parece corriqueiro e oficial. Dois TÚS é coisa de repartição pública e ligações de horário comercial. Então três TÚS era o que de menos óbvio haveria antes do início da indiferença, mesmo que falseada. Quando se conhecem às vezes as pessoas falseiam indiferenças,  é o blefe do amor que é perdoado por São qualquer coisa no dia do Juízo Final. Três TÚS é sinal de sinal de 
amor correspondido. Então ela falava um "alô" todo doce, e sempre parecia que antes de atender se masturbava. Um doce quase ofegante. 

A voz era a música de uma paz que vinha de uma viúva negra e quente e peluda. Mesmo em direção a uma morte presciente, firme eu ia em direção ao suicídio. Todos esses suaves suicídios que nem a vida, nem os homens, nem todos os seus códigos estúpidos poderia criminalizar... Além do instituído e das prescrições sociais esta a lacuna da vida, acontecendo em forma de dança, de preguiça e de sonho, incontrolável e fluida. Esse ir-se morrendo em direção ao amor vai nos deixando biruta até que a gente pare de respirar.

Então foi um "alô" e "alô". Conectados mesmo antes da conexão.

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