quarta-feira, 31 de outubro de 2012

os átomos de Drummond



À memória de Drummond.


A Poesia é uma borboleta sem querer
que chega até um dedo que não espera.
Os mais velhos olham, analisam as cores.
Queriam ver o grão dos olhinhos do bicho - mas não podem.
Sabem que não podem mas nem por isso deixam de tentar pela graça da tentação.
A poesia, alma pura, não pode ver nem ser vista.
Então os mais velhos movem o dedo com delicadeza,
querem manter a borboleta - e até conseguem com a prática.
Ligam suas antenas às dela,
e assim comunicam suas incompreensões.
Talvez entoem mantras, não sei!
Ou cometam silêncio, igual a antes de dormir.
A poesia é um monte de letras que dão beijinhos,
só com a ponta do bico.
Em matéria de beijinho de bico, somos todos bichos.
(Instalar essa confusão entre gente e borboleta é coisa típica de Poeta)
O beijo de língua já coisa de Poema.
Os Poemas são Poesias que estudaram bastante.
Poesia é um querer bem por querer bem.
Esse grisalho da Poesia é um dos grandes mistérios
que nenhum Poema pode dizer.
Há quem duvide da imortalidade da Poesia e dos Poetas:
esses ainda nem borboletas nem dedos, nem mesmo nada.

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