quarta-feira, 1 de agosto de 2012

os silvos inauditos



Quando encontraram-se, as duas solidões sentiram mútuo pesar. Olharam-se fundo no fundo dos olhos, que é o lugar que guarda o todo e o nada. Não suportaram o que viram. As solidões voltaram para casa, repousando suas solitudes, suas costas, suas unhas encravadas. Descansaram a carne dura numa banheira morna, até murcharem os dedos e sorrirem de descanso os músculos. Bebericaram delícias e provaram a própria unidade. Alimentaram as plantas que já quase moribundas. No vão do sono, cada uma delas fragmentou-se em muitos pedaços. Dividiram-se até dizer chega, espalhando-se impetuosamente em algum lugar sem nome, talvez fora do mundo batizado de mundo. Foram, cada uma em seu endereço, até o fim que sempre espera tudo que existe. Reencontraram-se num átrio solene que tinha ares de sala de espera. Uma sorriu. A outra também. A mão direita de uma beijou a mão esquerda da outra no transe dos dez dedos.  

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