sexta-feira, 10 de agosto de 2012

passei um café inda escuro, e logo me pus a cantar...






Elas transitavam pela casa.
Bebendo vocka.
Uma queria a outra.
A uma era um andrógino transcendente, um anjo integrado.
A outra era tímida, nunca tinha beijado outra menina.
A tímida foi trocar de roupa.
Trocou a calça por uma bermuda.
Aí perguntou se a bermuda tinha ficado bem, naquele corpinho novo e pequeno e delicado.
Dissemos que a calça ficava melhor.
Então ela pôs de novo a calça.
De calça ou bermuda,
era uma fruta intacta do jardim do Éden,
tinha 18 anos,
um charme vindo de algum nascedouro charmoso.
Tinha uns passos que não pesavam.
Ria como se fosse uma egípcia cobiçada por milhares de escravos a mais de 20 mil anos atrás.
O peito era um assunto à parte.
Um apenso.
Um anexo.
De arquitetura escondida entre uma blusa branca e um casaco branco e um colar que fazia curva na divisa dos dois peitos.
Alguns peitos são tão unos como Deus que chegam a merecer CPF, RG, cadastro na Polícia Federal.
Como peregrino do amor, cartografei dezenas de peitos na memória.
É meninice pensar que o volume é a grande qualidade de um par de peitos.
Um peito é o cheiro da pele que embrulha o peito,
é enlevo na dança das carnes,
é o arrepio do peito.
Um peito é a copa.
Como a copa das árvores coníferas, o peito é a agressão do corpo em relação à vida.

Vimos o trailer do filme Vicky Cristina Barcelona.
Elas queriam dar para o Javier Barden, como todas as mulheres do planeta terra.
Então foram tirar mil fotos juntas, como fazem as meninas jovens.
Minha profissão era observar, nunca fiz nada melhor.
É uma espécie de transe.
Observar é um retiro que se faz no meio das coisas que acontecem na vida.

Mas voltando à peituda:
olhei melhor e no final do colar havia uma cruz.
Pensei em dizer que ela tinha peitos religiosos, mas achei que ia parecer sem graça, como de fato é.
Então tocaram o interfone.
Era a comida.
Enquanto uma foi buscar a comida, fiquei olhando a menina tímida e peituda e divina.
Pensei em estupro, mas achei que seria complicado encarar um presídio.
No fundo no fundo só estupro a mim mesmo.
Pensei em hipnose, em projeções pra fora do corpo, naquela nudez vestida de branco, no efeito estufa, nas tetas das índias xocleng que caem com o tempo, na vitória do peito dela sobre a força da gravidade, na madureza física, no jogo do inter que estava por começar, na mulher perturbadora que ela seria com 30 anos.
Cheguei perto, mas já estávamos próximos.
Era estranho, mas era.
Talvez tivesse sido minha amante em vidas passadas.
Ou uma amiga, ou uma faxineira daquelas que seduzem meninos de 12 anos.
Ela tinha um rabinho pequeno, charmoso, europeu.
Tudo estava ali, pulsando.
Dei um beijo no canto da boca,
naquele lugar entrevado onde o quando construiu uma casa de dois andares, com piscina e drinks doces e pesados de álcool.
Tenho sido fiel à ilusão, esta amante envenenada.


Baron de Condesexto

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