terça-feira, 17 de julho de 2012

poesia da terra






Elas vão gostar de carros com cheiro de baunilha.
Elas vão querer camarão pistola.
Elas vão preferir camas king size.
Elas querem hotéis de luxo.
Elas querem as melhores escolas pros guris.
Elas querem máquinas de fazer pão.
Querem, sobretudo, comer bem:
mulher bem alimentada é mulher feliz.
Elas vão querer casas grandes,
cachorros que comem pedigree champ,
TVs de muitas polegadas.
Elas vão querer viagens, de preferência com muitas fotos.
Elas vão querer casamento, de preferência com docinhos e filés com molho agridoce.
A noite do casamento é a Noite do Nunca das mulheres.
São Peter Pans ao contrário na noite do casamento.
Elas vão querer manicure, terapia, academia, cartomante, pedicure, sobrancelha, RPG, depilação, massagem, reiki, yôga, personal stylist, coach, bronzeamento artificial, governantas pra mandar no mercado, o diabo a quatro, o diabo de quatro, o diabo do avesso. 
Ser rainha é um destino.
Querem filhos pra ornar o reino, 
salas bem decoradas,
estéticas que mostrem como elas “são”.
É o jeito que têm de se mostrarem vitoriosas ao mundo.
E são, já que a imanência é, senão o paraíso, uma possibilidade de acessá-lo.
O paraíso das mulheres é um enquanto-não-acontece-que-pode-acontecer.
O dos homens é a morte, de todos os jeitos que a morte existe.
Elas amarão de verdade.
Elas sentirão de fato e na pele.
E alimentarão com amor nossas vidas fabricantes, cogitantes, sem versos.
Serão a poesia terrena.

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