- Casa comigo?, perguntei.
- Ai, que pergunta difícil, ela disse.
- Eu faço perguntas difíceis, gosto mesmo é de dificultar.
- Mas se eu consultar as enciclopédias, os livros e o google posso achar a resposta, ela disse.
- Quando penso em ti, lembro do Bukowski, que sentia ciúme dos caras que tinham mulheres lindas, bem cuidadas, perfumadas e com vestidos floridos de algodão.
- Você adora me deixar sem palavras... quando falo contigo, sinto como se estivesse lendo um livro.
- Exatamente, tudo é um livro, eu disse.
- Eu pareço uma adolescente que não sabe o quê responder...
- É assim mesmo, respondi. Cada coisa no seu lugar, cada tempo no seu espaço de tempo, cada silêncio quietinho na fila.
- Ainda bem que você entende, ela disse.
- Talvez eu me deixe seduzir pelo teu silêncio. Na verdade sou sincero demais, queria mesmo era cheirar teu cangote. Sofro dessa coisa de ser sincero demais. Ou talvez eu diga ser sincero pra mentir um pouco. A sinceridade é um vício como o cigarro ou o álcool ou a internet, hoje em dia muita gente anda viciada em internet.
- Acho que o meu vício é não saber responder, ela disse.
- Então, nesse caso, nossos vícios são viciados um no outro: meu não-silêncio é viciado no teu silêncio!
- Ai, não sei o que dizer, ela disse não dizendo.
- Que bom, eu disse.
- QUE BOM? eu me sinto uma BOBA, ela disse.
- Porque boba? Conte-me mais.
- Porque não sei o quê responder, ela disse.
- Mas essa já é uma resposta. Teu silêncio é a resposta. Aliás, o silêncio é melhor porque deixa o outro pensando o quê bem quiser.
Sensacional!
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