quinta-feira, 3 de outubro de 2013

sem escrever a palavra silêncio





E eu...
que me pensava rico de palavras,
me percebi menino.
Ou melhor: criança.
Dessas novinhas, de colo.
Tipo as que cospem a papa na gola da camiseta.
E que devolvem a papa para a colher, 

sem nenhuma culpa ou vergonha dos outros.

Definitivamente, não tenho sabido dizer!
Por isso, quando escurece, escrevo.
É um jeito nostálgico de lembrar quem eu fui.
Mas escrevo só a raspa do tacho,
só as cracas das palavras que, mesmo ditas, não dizem porra nenhuma.
Dizer é errar o alvo das coisas humanas que são sumas.

E eu...
que me pensava rico em palavras!
QUE INGÊNUO! QUE IMBECIL!
Fui autoboicotado por mim mesmo, que é um tipo de boicote raro. 

E duplo.
Tenho tido fé no gaguejo.
E balbuciado como nunca.
Ando bom também em enrolar a língua:
Em público porque sou sequestrado pelo que penso.
E no íntimo porque simplesmente minha dicção gripou.
É uma espécie de virose da linguagem que os médicos nunca poderão catalogar porque ainda acreditam em catálogos.
Craque mesmo fiquei em sussurro e gemido - tanto em emitir quanto em ouvir,
porque não se pode dizer nem um nem outro.
De resto tenho BABADO.
E limpado na manga da camisa.
Isso porque pegaria mal pra um cara de 30 andar com aquele paninho-branco-estanca-baba-de-recém-nascido.

É que depois dela emudeci.
Não sei dizer.
E nem quero.

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