domingo, 19 de maio de 2013

deixar que os gatos caguem no tapete dos outros






Os cotonetes acabaram.
Então você compra um pacote de cotonetes na farmácia da esquina e logo resolve aquele desejo insano de USAR o cotonete.
Como uma síndrome de abstinência, você sofre uma overdose, 
e FINCA o cotonete com TUDO no ouvido.
Aquela nata podre se agarra no algodãozinho como o delírio de um gol.
Mas logo o ouvido direito fica entupido. 
Então você não escuta NADA com o ouvido direito.
Mas tudo que acontece no COSMO tem que acontecer, então você pensa que aquilo (1) pode ser um sinal para que você "se escute" mais, ou que (2) o espírito de uma velha surda acoplou em você sendo o efeito do cotonete apenas um pretexto, ou que (3) Deus mandou um recado no sentido de que é preciso ouvir menos e falar mais.
Mesmo morando sozinho e parcialmente surdo, você resolve fazer um jantar.
Corta a cebola e mistura à ela uma carne moída meio estragada.
Frita tudo até que a massa fique cozida na outra panela.
Enquanto isso entorna 2 taças de vinho.
Depois de pronto você escorre a massa.
Coloca a massa no prato.
Depois coloca aquele projeto de molho por cima da massa.
Em seguida o queijo ralado.
Depois que você consegue passar protetor solar nas costas e fazer uma janta, casar se torna prescindível.
Então você calibra a taça de novo.
E vai para a sala, jantar sem nenhum ritual, sem filhos correndo pela casa, sem gatos cagando no tapete, em paz com a sua televisão cheia de canais.
Mas ai a massa toda escorrega do prato e morre no tapete da sala.
No prato o molho estava por cima da massa, mas agora, no tapete, está por baixo da massa.
Ainda faltam dois dias para que a Carmen apareça pra faxinar o apartamento e manchar algumas roupas.
Você é um semi surdo e sem comida.
E isso não é um problema, afinal, a taça está em pé, equilibrada, firme, livre, democrática.

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