segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Phebus




Eu até diria, escreveria, borraria o branco da tela, pra que tudo fosse jogado fora, pra que as angústias e as esperanças fizessem um par em letras fora de mim. Mas porra, que merda, ninguém mais aguenta que se lamente todas as saudades que todos sentem. A saudade é um dedo, é um braço invisível, que nos acompanha mesmo estando amputada. A saudade é a mãe dos suicidas, de todos os drogados que querem "transcender", falar com o "outro lado". A saudade cansou de pedir os holofotes. A saudade é a grande mãe desses caras com barba comprida, que são "artistas", e que fazem poesia... qualquer porcaria de poesia é uma ARTE pra esses caras. Eles querem fazer ARTE. E fazem qualquer merda em nome disso. Uma cadeira pendurada no teto é a porra da ARTE. A foto de uma bolita no cú é ARTE. Um par de peitos moles servindo como protesto contra a corrupção é "a arte contra o capitalismo". Fodam-se. Estão todos no mesmo saco. Fedendo o mesmo fedor. Eu poderia falar da menina de saia azul que dançava como ninguém: linda, coxas fortes e finas, coxas que subiam e colavam na bunda do cara no meio do forró, cabelo preso, 19 anos, sonho de um consumo impossível. Mas ela é a utopia, a falta de nexo entre o mundo real e as possibilidades do sonho. Então jogo ela nessas letras, pra dormir em paz. Eu poderia recusar o convite dos sentidos - e escrever é uma espécie de se livrar das coisas que a gente sente - e em recusando, sentir completamente. Escrever é esta espécie de vaso que, antes de se encher de merda humana, dilui os dilemas, organiza as hipóteses, racionaliza os sonhos que não lembramos. Um sonho não lembrado é uma benção à memória. Não ando interessando em entender os sonhos, porque eles me cansam. A lógica dos sonhos me cansa, como todas as outras lógicas. Poderia escrever um poema como os artistas barbudos dizendo que toda a saudade só é bonita nas músicas, ou escrever frases de efeito, essas frases curtas de efeito que vendem como IPhone novo, afinal, ninguém mais tem paciência pra ler MIL páginas sobre alguma coisa. É o mundo da impaciência meus senhores e senhoras, meninos e meninos, veados, artistas, mendigos, evangélicos, nazistas, putas, caminhoneiros drogados de rebite. Eu poderia escrever esse poema sobre a saudade, ou sobre essa gostosa que dançava sensualíssima. Mas estou cansado. E vou poupá-los. Nada é tão importante quanto dormir, dormir profundo, e não lembrar de nenhum sonho no dia seguinte.

2 comentários:

  1. Ninguém me lembra tanto o Bukowski escrevendo.
    Sim, é um elogio... o Velho Safado é um mestre!
    Incrível!

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  2. Sempre me admiti como uma espécie de plagiador não capturável pelo google. O intertexto é pegar o bastão de outro e seguir correndo pra algum lugar. Brigado Ka.

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