a raça humana é um bicho preto que transita no canto de um banheiro escuro de um posto de gasolina às 2:54 da madrugada de um sábado para domingo. a raça humana é uma rato grande como um leitão que se arrepende de cruzar a rua depois de já ter começado a cruzar a rua. a raça humana é um desajuste entre os desejos e as possibilidades de suportar o contexto que estão ao redor dos desejos. é estacionar o carro numa rua deserta, chavear o carro, caminhar lento pela calçada, olhar os cadeados que asseguram as coisas de todos os lugares, e subir os degraus do prédio para enfiar a chave na fechadura, então abrir passagem para um corpo com vida que não consegue atravessar coisas simples como um vidro ou uma grade sem vida. depois enfiar de novo a chave para fechar a porta e ir até o elevador que sempre está no último andar porque os filhos da puta geralmente moram no último andar. a raça humana é um passeio sozinho nesse elevador depois de apertar o mesmo botão que leva ao mesmo andar. a raça humana é essa repetição de passos que conduz aos mesmos buracos profundos. a raça humana é dormir numa cama pequena com quem não se gostaria de dormir. a raça humana é dormir na rua e beber pinga barata até alcançar com o dedo pra suportar o inverno. a raça humana é um estatuto de preocupações ao redor do corpo. a raça humana é um desejo tenebroso de trucidar o desconhecido e todo o exército de gente que não sorri para os nossos próprios sorrisos. a raça humana é a batalha vencida de poder olhar o rosto humano. a raça humana é um maçarico incansável no pijama velho e surrado que nunca deveríamos tirar.
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