quinta-feira, 22 de março de 2012

CÍTARAS QUE ENTOAM UM CANTO

A nostalgia é sempre uma sensação que já tivemos.
A nostalgia é sempre um bem.
Aos terrores de antanho, usamos a lembrança.
E as chamamos de lembranças más,
sem notar que não se tratava de maldade, mas de uma condição.
Não há como pesar o passado porque sempre o fazemos daqui,
do presente que nos pesa nos ombros,
como se fossemos cristos com uma cruz sem os louros de um cristo.

Não sei pra quê serve a saudade, ou como se usa, ou em que ocasiões.
É compreensível que a saudade nos confunda.
Pois saudade se sente ou do que doeu, ou do que curou.
Se pensamos na dor, sabemos que deu pra deixar de senti-la.
Se é caso de cura, é  desejo por poder:
por poder de ser um outro capaz, sobretudo, de abandonar dores.
Ter doído é um poder, quase uma vaidade dos anciãos em tudo.

Penso aliviado,
remexendo os pés sem meia que se cruzam,
deliciado em cima de um balanço que balança para me fazer ver a vida.
Ver assim sem estar nela.
A nostalgia é um vinho que se bebe sem pressa e pretendendo sempre o calor do passado.
Não há nada mais intenso que o ontem, nem nada tão sedutor quanto o dia de amanhã.
E o que se passa ao redor desses fantasmas,
é um piano manso num dia qualquer de uma semana comum.
Ou mesmo qualquer outra coisa banal e sem intenções grandiosas.
Grandiosidades são fetos anencéfalos, com morte garantida como prêmio.
Só a potência da semente tem uma ereção vital imbatível.
A semente disfarça, é cotidiana, é uma entre tantas, é comum.
E ser comum é uma delicia saborosa, como filme bom ou sexo com amor.

Traí os loucos,
deixei na porta da escola num fim de tarde de inverno os pequenos rejeitados,
subverti tudo o que de subversor havia.
Sensaciono, que é o mesmo que o sentir significa para o sentimento.
Não se trata de sentir sensações, mas de sensacionar.
Sensaciono nostalgias que tive, mas assenhorado do que fui.
Com nostalgia sensaciono só belezas, carinhos, delícias e bem-querer.
A nostalgia ganha da vida com um blefe.
É um ganhar da opressão da vida sem mérito.
É um estar ofegante mas sem ter cansado no caminho.





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