quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

NADA NOVO





No chão do quarto, as formigas estavam entranhadas num pedaço de papel higiênico sujo de gozo, o que comprova que as secreções do desejo humano são doces... talvez fosse a tal sacarose da 7ª série. Faz tanto tempo que passei pela 7ª série que já não lembro porra nenhuma sobre biologia. Talvez todo o ensino esteja formatado pra ensinar apenas que podemos aprender. Não o conteúdo em si, mas a percepção de uma potência que temos e não sabemos como usar.

O coração tinha chegado perto de um infarto do miocárdio, e tentava se recuperar, sedentário que era o pobre por conta da minha preguiça. O melhor a fazer era fechar os olhos, respirar fundo, esperar que a vida voltasse a acontecer como sempre: igual, lenta, sem sentido aparente, com sorrisos espontâneos inventados, cotidiana como manter o corpo vivo. O cotidiano assusta demais o povo, que quer viver no êxtase eterno, na eterna sexta-feira, nas férias eternas, com o pau sempre duro, com transbordes de tudo, no eterno pódio impossível...A vontade de gozo é uma fuga como são as drogas, o futebol, o trabalho, as seitas, o álcool ou o facebook. Viver é basicamente uma procura por escapes do cotidiano. É por isso que os drogados morrem, que os jogadores perdem tudo, que os loucos são internados, que os workaholics não têm lazer. Quando a vida se esquece de viver fora do cotidiano, nascem os problemas óbvios que não vemos. O óbvio é um grande filho da puta, porque sempre se esconde num lugar óbvio que, por sê-lo, é o último a ser investigado pela maioria dos babacas...

Nos limpamos e aproveitamos aquele pedaço de momento em que a vida valia a pena. Precisava de água, minha boca era a de um peregrino do deserto que só tinha amendoins pra beber, eu queria tomar um drink gelado. Fui até a cozinha e bebi um gole longo de água no gargalo, não havia drinks gelados nem copos limpos - e se houvesse, usar copos pra quê? Enquanto a água descia pelo meio das vísceras, eu não pensava em nada. 

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