sábado, 22 de dezembro de 2012

ODE INCA




Do alto,
de onde se pode perceber que a terra é grande,
mesmo que se mantenha pequena se pudéssemos subir um pouco mais,
há de se ver a pequeneza dos detalhes terrenos.

Filho do céu,
entre o céu,
em direção ao céu,
sento-me sobre a montanha.

A fumaça circunda o cimo,
mostrando que até Deus ainda não deixou de fumar.
Há mais coisas na fumaça que caminha em direção ao alto,
do que nas pedras incas que deixaram a fama subir à cabeça
 e agora vivem de fazer pose para as máquinas fotográficas.

Empilho as pedras,
todas elas ricas em equilíbrio depois de equilibradas por mim.
O sol segue arrogante,
marcando um meio dia de dias antes de um fim de mundo que vai acabar,
mas só pela metade.
Ele o sol, faz nexo entre eu e o impossível.
Então caminho pela ponte temerosa porque sei do jardim onde vivem os que já não esperam.

Noutro cimo outros dois homens conversam:
de quê haverão de falar dentro deste silêncio tão cheio,
sendo a sabedoria a experiência dos que aquietam?

O fecho da doutrina do silêncio não poderá ser escrito,
assim como as formigas não poderão descer até o pé do monte.
É preciso muita impossibilidade para  que o sol nasça a cada dia.

Embaixo ou em cima, pouco muda àquele que vive por caminhar sem ver.
Mas eu ainda não sou,
nem nunca serei qualquer coisa além de carteiro dos deuses,
porque o que sei,
se resume a pensar de olhos fechados...
enquanto todas as formigas da terra carregam seus pesos,
e juntam suas folhas, e se organizam em equipe, e se comunicam pelas antenas.

Na minha casa eu caço formigas -
porque da minha casa elas não pertencem.
Aqui no alto, agora, vivo a revanche.
Se lá elas levam pedaços do meu bolo de chocolate,
eu, aqui do vale sagrado latino,
trago meu coração para pulsar neste terreno formigueiro sem nenhuma autorização.
Com sangue quente, e carne humana.
Contemplo, aquieto e sinto para encontrar outros sangue-quente,
embaixo desta bruma que é o país onde vivo com as formigas.

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