sexta-feira, 4 de maio de 2012

Piedade





Queria pedir que tenha piedade.
Queria pedir que me peça perdão.
Queria poder perdoar.
Queria também pedir perdão.
Queria que você morresse: por dentro, por fora e em volta, mas de mim.
Queria que minha palavra não fizesse curva.
Queria promessas de cobertor.
Queria resposta, explicação, um depoimento comprometido.
Queria ao menos uma defesa contra esse assassinato.
Queria olhos nos olhos, com almas em acordo de paz.
Queria ser direto, exato, matemático.
Queria a fórmula da equação.
Queria não fazer poesia.
Queria receber alguma.
Queria ser um plágio que fala sinceridades.
Queria verdades transitórias com mais horas.
Queria um velório que não tivesse fim.
Queria um trevo que dividisse essa estrada.
Queria deixar a luneta da observação.
Queria o cheiro mais que a observação.
Queria o sentido, mais que a narração.
Queria reverenciar um túmulo no dia dos mortos.
Queria levar uma rosa única, e deixá-la fria numa garrafa de plástico.
Queria entender a utilidade do artificial.
Queria essa arma longe da minha cabeça.
Quero pedir que tenha piedade.

3 comentários:

  1. Lindo... Nossa é surpreendente.
    Queremos tantas coisas, que as vezes nem sabemos por onde começar... Rsrs

    Então, sua palestra está sendo muito aguardada aqui na Uniron.

    Aline Aguiar

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  2. Sem comentario irmão! Aquele vinho tava abençoado!

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  3. Valeu Aline! Sexta estaremos ai, falando alguma coisa!
    Mago, tem que ver a gravação do celular, ficou tudo registrado!

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