sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Seamos realistas, soñemos lo imposible

Depois de tanto escutar Warat e sua proposta de educação dionisíaca, alguns fantasmas passaram a perambular em meu imaginário sobre os métodos de ensino, formas de avaliação e demais desdobres em direção à melhor pedagogia. Especialmente no Direito e sua tradição bruta e burocratizada. Refletindo, passei a transmudar esses fantasmas em seres mais coloridos e com mais vivacidade. As borboletas e os anjos me indicaram, então, que era preciso fazer ação de todo aquele discurso, que era preciso começar a mexer as peças do retrógrado e cansativo palco reprodutor de bacharéis de nariz empinado. Também estava ciente que alguma resistência existiria em razão da velha dificuldade de transformação. Afinal, como diz Ingenieros, na órbita dos espíritos medíocres é preferível repetir o que é mal conhecido do que testar o bem que possa vir a ser conhecido. Os medícores - aqui se alude ao mediano e não ao medíocre carregado de notas pejorativas - são rotineiros, não tem ideiais. Fazem da arte um trabalho, da ciência um comércio, da filosofia uma ferramenta, da virtuosidade uma empresa, da caridade uma festa, do prazer de dionísio um pobre sensualismo. Buscando sempre a vitória da vida naquilo que não lhes pertence, já que, em verdade, não pensam, e portanto, assumem para si os nortes alheios. Podem passar uma vida inteira sem essa consciência e, por isso, são mais felizes pois são bobos inconscientes, são egoístas (e o assumem sem medo) e tem boa saúde. Essas são as três condições para um medíocre - os nossos ceguinhos do castelo - ser feliz. E são.
Eles também nada tem de criativos, pois se apoderam da criatividade de alguma alma geniosa quando esta vira algum resultado prático. Sim, eles vivem e morrem pela prática. Em tudo deve haver um porque bem delineado, uma chegada estabelecida...e passam inconscientes pela vida sem perceber que o doce está na travessia. O rol de características é extenso e por isso encerro por aqui.

Feita essa introdução, foi tentando superar essa rotulação que na 1a avaliação da turma de Contratos Internacionais na IMED, depois da leitura de um texto sobre a história de Peter Pan, de James Barrie, fiz a seguinte pergunta: Você acha possível comparar ou fazer alguma analogia entre o mundo atual e a Terra do Nunca? Apoiado no adágio de Erich Fromm, para quem "a criatividade exige a coragem de nos libertarmos das certezas" e mesmo em Einsteen que sentenciou que "a imaginação é mais importante que o conhecimento", tive gratas surpresas com os ótimos textos produzidos pelos alunos. Entre eles, o texto da excelente aluna Eva Valéria Lorenzato se destacou, razão pela qual vai aqui publicado. Parabéns pela sensibilidade e criatividade Eva.


A "TERRA DO NUNCA" É A REALIDADE SUBJETIVA DE CADA SER HUMANO. AO LER O TEXTO RECORDEI DO LÍDER "CHE GUEVARA". ONTEM ASSISTI A UM PEQUENO VÍDEO ELABORADO SOBRE ELE, COM UM FUNDO MÚSICAL DE DANTE RAMON, QUE FALAVA DE LIBERDADE. CHE ME PASSOU UMA IDEIA DE PESSOA QUE DEVERIA TER A ALMA LIVRE. DEPOIS DISSO, COMECEI A AQUIETAR A MINHA ALMA, QUE JÁ ESTAVA FICANDO PRESA LÁ NO FUNDO DE UM CALABOUÇO CHAMADO ROTINA, REALIDADE, CAPITALISMO, GANÂNCIA, DINHEIRO E MUITOS OUTROS.

LIBEREI, ENTÃO, DENTRO DE MIM UM SENTIMENTO DE SOLIDARIEDADE PELO MUNDO E PELA MINHA PRÓPRIA ALMA. PERMITI-ME, ASSIM, SONHAR NOVAMENTE COM UM MUNDO MELHOR. O MUNDO QUE EU ACREDITEI COMO VERDADEIRO DESDE A MINHA INFÂNCIA, QUANDO O LOBISOMEM PODERIA SER MANDADO EMBORA COM UM SIMPLES OLHAR MATERNO. COM ESSA LÓGICA, NA ADOLESCÊNCIA PASSEI A CONSTRUIR A MINHA IDEOLOGIA DE MUNDO. UMA IDEOLOGIA DE QUEM TINHA CORAGEM PARA ENFRENTAR E TRANSFORMAR A SOCIEDADE. HOJE, DEPOIS DE REVER O OLHAR DE "CHE", RELEMBRO NOVAMENTE DE MEUS IDEAIS E A MINHA ALMA VOLTA A SER LIVRE. ASSIM, DEVO ACORDAR DO SONO DIÁRIO, RECOMEÇAR A ROTINA, MAS SEM ESQUECER DE SONHAR E DE ACREDITAR SEMPRE QUE UM MUNDO MELHOR PARA TODAS E TODOS É POSSÍVEL.

FINALMENTE, A MINHA FÉ ME FAZ ACREDITAR QUE PETER PAN FOI CHE GUEVARA E GANDI, SOU EU E PODE SER VOCÊ, ENFIM, SOMOS TODOS NÓS QUE ACREDITAMOS NA FELICIDADE E CONSTRUIMOS UM MUNDO MELHOR PARA SE VIVER.

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

O inaudito feminino


Os dragões e anjos femininos operam silenciosamente...por isso que mesmo falando muito, muito pouco do que as mulheres falam realmente tem alguma relevância.

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

O amor e seus conceitos improváveis

E então Charlie Brown, o que é amor pra você?
- Em 1987 meu pai tinha um carro azul
- Mas o que isso tem a ver com amor?
- Bom, acontece que todos os dias ele dava carona pra uma moça. Ele saía do carro, abria a porta pra ela, quando ela entrava ele fechava a porta, dava a volta pelo carro e quando ele ia abrir a porta pra entrar, ela apertava a tranca. Ela ficava fazendo caretas e os dois morriam de rir....acho que isso é amor.
** Essa tão completa definição de amor foi extraída (pasmem) de uma pretensiosa comunidade do orkut!

terça-feira, 27 de outubro de 2009

A insustentável leveza do ser


Aproveitando a deixa da queridíssima amiga Fran, transcrevo esta interessante passagem de A insustentável leveza do ser, escrito em 1984 por Milan Kundera. Além de reafirmar a falibilidade do método científico, o aforismo revela que, quando se trata de aproximações amorosas, a grande protagonista é a aleatoriedade. Ou seria o caos? Sim, o caos desprovido de qualquer conotação pejorativa. O caos que resolvemos chamar de "lado B" quando nos referimos ao não-saber do destino. Talvez muito antes de 1984, nos tempos de Caim e Abel em que os jornais se preocupavam com o dilúvio e não com o aquecimento global, essa grande mensagem já tivesse sido proclamada. Kundera acaba sendo bíblico e indicando a todos que sigam os sussurros que ecoam baixinho em nossos corações. Essas sábias orientações ametódicas que, por vezes, tentamos evitar. Por medo que não valha. Por medo que não de tempo. Por medo que, antes, o aquecimento do mundo nos frite. Por medo de tanta coisa que pensamos ter certeza e que se esvanecem em mortes que sequer carecem de luto. Enquanto isso, ficamos sujeitos aos instantes quaisquer, ao copo de vinho a mais, à desistência não querida, ao beijo dado, ao fim que parecia cólera, à mentira que de dor virou prazer, ao sono esticado ou perdido e tantas outras conjunturas mínimas, ínfimas e minúsculas da vida que fazem esse norte chamado destino ser o que de mais aleatório e sem motivo existe no universo.


"Mas o homem, porque não tem senão uma vida, não tem nenhuma possibilidade de verificar a hipótese através de experimentos, de maneira que não saberá nunca se errou ou acertou ao obedecer a um sentimento."

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Outro vagabundo com dois braços e duas pernas!

Encontrei o texto abaixo no blog do PPGDireito da Unisinos que foi retirado da revista Carta Capital. Trata-se de uma cientificação aos cegos do castelo que gritam aos sete ventos aos seres rastejantes das ruas que não são bichos: vai trabalhar vagabundo, você tem 2 braços e 2 pernas como eu! O que é preciso fazer para ganhar a carícia de um olhar? Se não começarmos a olhar e ouvir os murmúrios para além das miradas e sussurros que agradem nossos sentidos, inciamos, inevitavelmente, o processo de convulsão da estrutura social. Talvez o nosso guerreiro da vida relatado abaixo tenha sido abatido pela nova epidemia global: "a vontade de José Mayer"...


José carlos da Conceição estava com a aparência de quem havia se perdido há muito. Descalço, com unhas, cabelos e barba enormes. Ladeado por policiais militares e bombeiros, o baiano de 26 anos saía à força do local onde pretendia dar cabo da própria vida. Enquanto José Carlos era algemado, curiosos, que ao longo da manhã interromperam suas rotinas e se aglomeraram para acompanhar o desenrolar da história, gritavam contra ele. “É um marginal. Tem de ser preso”, “Ele precisa de uma surra”, “O que ele quer é roubar”, diziam. O jovem mantinha o olhar fixo, distante.
Um ano antes, José Carlos deixava a cidade de Lauro de Freitas, na Bahia, onde vivia, para buscar trabalho a 800 quilômetros de distância, no Recife. Na capital pernambucana, além de não encontrar o que procurava, trilhou o descaminho. Ao chegar, disse, foi assaltado. Não sobrou nada. Dinheiro, lenço ou documen-to. Começou a vagar pela cidade, a dormir na rua. Virou pedinte. Pedia trabalho e ajuda. O primeiro, não encontrou quem lhe desse. A segunda, com o pouco que recebia tentava vencer a fome diária. À família, avisou apenas que iria viajar, não disse para aonde. “Perdi o contato.”
Pouco antes do dia em que decidira se matar, José Carlos se envolveu em uma briga de bar. Foi esfaqueado, na barriga. Atendido em um hospital público do Recife, teve de enfrentar uma cirurgia. Ficou dias internado. Após receber alta, voltou para as ruas. Raciocinou com a lógica do desespero e foi então à rodoviária. Pensava que no lugar de partidas e chegadas, conseguiria encontrar seu caminho de volta. Pediu em vão auxílio a viajantes. Decidiu dormir no terminal. Acabou expulso uma semana mais tarde.
Sem ter como contatar a família, sem esperança de voltar à Bahia, José Carlos escolheu o suicídio. Na manhã de uma segunda-feira subiu em uma torre de telefonia para se jogar. A cena mudou a rotina de uma movimentada avenida em Jaboatão dos Guararapes, na Grande Recife. A polícia e o Corpo de Bombeiros foram acionados. Um carro e uma equipe de resgate, além de duas viaturas policiais, seguiram para o local.
Os curiosos se acotovelavam nas calçadas, em cima de muros, na rua. O trânsito parou. Nos ônibus, todos os rostos estavam voltados para o alto. As buzinas não cessavam. “Pula logo. Para de chamar a atenção, rapaz”, alguém gritou. Não faltou quem tentasse adivinhar o que o teria levado a tomar tal decisão. “A mulher traiu ele”, disse uma senhora. “Ele é um golpista, faz isso para tirar dinheiro dos outros”, garantiu outro.
Naquela segunda-feira, o pastor evangélico José Alencar Lopes fazia seu trajeto habitual quando viu a movimentação próxima à torre de telefonia. Informou-se a respeito e descobriu que se tratava de uma tentativa de suicídio. “Tentar se matar é coisa de quem está desesperado. Decidi conversar, tentar ajudá-lo. Ajudar os outros faz parte do meu trabalho, do trabalho de Deus”, explicou. Depois de duas horas, com o apoio do pastor, José Carlos foi convencido a descer. E só o fez mediante uma promessa: em troca, receberia auxílio para retornar à Bahia.
José Carlos carregava apenas uma sacola de plástico com o que parecia ser uma rede velha e suja. Seus lábios estavam rachados. O corpo, coberto de feridas. Na barriga, a cicatriz da cirurgia recente. “Não quero ir para hospital. Quero ir para casa. Vocês vão me ajudar? Preciso ir para casa”, repetia. Ao descer da torre, precisou ser escoltado. Ante o desfecho anticlimático, os espectadores tentaram agredi-lo.
Não parou por aí. Na delegacia, policiais checaram sua ficha. Nenhum antecedente. O nada consta criou, porém, outro problema. Liberado e sem ter para onde ir, José Carlos deveria ser encaminhado ao Hospital Psiquiátrico Ulysses Pernambucano. Deixá-lo ao léu seria arriscado. Poderia gerar novo tumulto. Comunicado da decisão, o baiano estacou na porta da delegacia. “Para lá não quero ir não. Para o Ulysses não.” Se fosse, seria a quarta passagem de José Carlos pelo local. Então, pela segunda vez, o pastor José Alencar entrou na história. Contatado pelos policiais, o religioso foi à delegacia e assumiu a responsabilidade pelo rapaz.
Ao pastor, ele relatou sua história. “Aconteceu com ele o que acontece com muitos jovens: não consegue trabalho, nem comida, e acaba se envolvendo com bebida e confusões. Não aparece quem lhe dê a mão, apenas quem lhe mostre o mal. Ele estava sem esperança, faminto há vários dias. Além disso, ninguém quer por perto uma pessoa pobre e fedendo, não é?”, diz. José Alencar ofereceu orientação, abrigo, comida, banho e roupas a José Carlos. “Com a barba feita, cabelo cortado, roupas limpas e banho tomado, ele ficou até bonito, o rapaz”, brinca. O pastor levou o protegido à rodoviária e comprou a passagem de volta para a Bahia. Após um ano, o jovem registrou a perda dos documentos e voltou a existir oficialmente. Quinze para as 7 da noite, embarcou de volta à terra natal.
Durante o tempo em que permaneceu na cidade, José Carlos só foi percebido pelos olhos do poder público nos momentos em que quase morreu. Sua passagem pela estrutura de Saúde do estado e a operação de resgate, quando tentou se matar, custaram aos cofres do governo cerca de 3 mil reais. A atenção dispensada a José Carlos por um cidadão comum solucionou o problema de um ano em uma tarde e com pouco mais de 150 reais. “Acredito que isso deu a ele uma nova chance de ter uma vida digna”, concluiu o pastor, capaz de um gesto humanamente simples (Larissa Brainer – 16/10/2009).

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Entrebocas...


- Honrada ao ver a súplica de um canalha da pior categoria pelos meus beijos...
- Não bem súplicas, isso soa tão desesperado...Talvez um saudosismo intenso pelos beijos que eram nossos...beijos de um canalha da pior categoria e de uma gordinha gostosa, que se desencontraram no tempo mas não nas bocas efêmeras!


Quando é preciso despedir-se


"Daquilo que sabes conhecer e medir, é preciso que te despeças, pelo menos por um tempo. Somente depois de teres deixado a cidade verás a que altura suas torres se elevam acima das casas."
Friedrich Nietzsche

Sobre lugares encantados


LUGARESENCANTADOS


Não só a morbidez das palavras ditas a granel,
mas também o vivaz dos que respiram,
quedam a rodar em imaginário carrossel,
em ígnea marca de olhares que’inda miram.
As Simones e Salomés,
que amortecem pêlos, cabeça e pés,
mais todos personagens imaginários,
alimentam o criativo incandescente.
A viver desses preceitos falsários,
esse enredo é uma esperança
de propósitos decadentes.
Essas que nos marcam,
nos fazem em multidão tão sozinhos.
Revoluções em silêncio desatam,
laços gramaticais que fogem de mansinho.
E fico a esperar no balanço das praças,
aquelas delícias que não posso renunciar.
Ela, que minha alma ainda amassa,
a revolver esse chão a se estreitar,
a me lançar moribundo outra vez
na floresta encantada do saber amar.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Cafés filosóficos da Casa Warat: o privilégio de estar próximo ao pensamento celeste


Como sempre, ficamos com a sensibilidade apurada, com o sopro quente dado a degelar a fria geleira das burocracias, com o persistente manifesto da geniosa alma do querido Warat. Este que não se conforma com o posto e faz do surrealismo a ponte capaz de unir a falsa retidão ao macio dos sentidos. Lamentavelmente, ainda são ecos nobres que se perdem em meio à tanto ouro e tantas máquinas emperradas pelo tempo. Warat faz do surrealismo o broto próspero a retirar do inconsciente a forma genuína de sentir os olhares e o amor alheio. Minutos com Warat são como as metas de Kubitschek: crescimento de 50 anos em 5...minutos! Agredecemos à essa geniosa alma que podemos estar tão perto!



Foto surrealista do café surrealista!


Ecos de Caetano



Escuro exposto, exposto no escuro!


EFÊMEROSESTADOS

Adivinha-me os segredos?
E eles, os segredos, se fizeram,
um a um, quando, sem qualquer
prenúncio, aviso ou intimação;
as energias elétricas todas,
enviadas pelas redes, desapareceram.
Era um sábado qualquer
de um mês também qualquer.
E no escuro pela energia ausente,
uma outra brotava.
Eis que a energia de um homem
acontece quando ele é capaz
de pensar sua própria imagem:
dos espelhos e da alma.
Mas a noite era escura.
E com ela, o homem se encontrou sozinho.
A solidão mórbida e sabida da noite,
se fez outra pelo estado de natureza
plantado naquele homem, de forma bruta
e de jeito normal, pela queda abrupta de energia.
Sabia ele que logo voltaria.
Sabia que com ela também tornaria
sua capacidade vaga de perceber as coisas
na noite por meio da possibilidade da luz.
Notava que, durante a noite,
era nada sem a luz,
a ferramenta que fazia ver as coisas no escuro.
Não exatamente a luz, por si só, especificada
nuns ou noutros abajures, nas irradiações
das lâmpadas de cem velas, que equivaliam,
dentro de um micro universo de química,
a nada menos que cem velas de cera acessas,
todas, ao mesmo instante.
Essas mesmas que se esvanecem
nas capelas a sonegar promessas que
nunca se dão.
Não a óbvia luz elétrica,
mas a luz que nele tanto se escondia,
e que se acendia, na noite escura que ali vivia.
Sabia, o homem do escuro, que a luz voltaria.
E pensou até poder dispensá-la,
eis que em rápida adaptação,
podia já ver certos contornos
mesmo na mancha negra do escuro.
Seu sínodo só não era em solidão
pois se fazia notar seu vinho e sua taça.
E pensava que o vinho escuro que tragava,
tinha uma qualquer correspondência com aquele
momento posto em notas de uma poesia ilegível no escuro.
E percebia, também, todo o poder da escuridão.
Sua onipresença silenciosa.
Era uma monarca dormente.
Que estava ali todos os dias,
escondida na ardilosa luminosidade artificiosa.
A mesma que fazia velar os próprios dentes escuros
que o vinho escuro pintava e que não
se fazia notar, pela faticidade escura que se dava.
Todas as circunstâncias do instante,
içaram do profundo do espírito do homem,
uma inquietação cercada de nada,
aquela angústia de sempre e um novo porém.
As próprias velas de cera eram nada.
Pois se estavam, encontrá-las não era possível.
E a companhia daquele sábado, se resumia
à escuridão do momento e à outra do vinho.
A embriaguez que não se mostrava no rubor das buxexas,
cansada e com medo,
pediu licença ao prazer por um lapso,
e aquele efêmero homem sem luz,
pleno e perdido entre a nuvem escura,
escureceu também seus desejos inquietos,
sacrificou uma parte pouca dos seus segredos,
para mostrar que era ele o dono daquilo,
e que nenhuma escuridão seria invencível
com a possibilidade eterna que tinha de transcender
à exatamente tudo que se tensionava,
no clarão dos dias sem sol,
ou na escuridão daquela noite em que se encontrava.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Quadra paulistana


Fazendo rimas, construindo poemas,
fingindo a profundidade que nunca alcança.
Pisa sempre nos mesmos lugares,
e nunca avança.


Ana Justiniano

domingo, 18 de outubro de 2009

Não devia ser apenas sonho!


No frutífero ínterim entre a consciência de estar desperto e do mergulho ao inconsciente que o sono promove, lembrei de “Foi apenas um sonho” (Revolutionary Road, 2008), filme que me deixou boquiaberto a um ano atrás. E não sei exatamente as razões de sua aparição neste lusco-fusco de consciência. A verdade é que a história tocou, provavelmente, pelas rotas que se apresentavam no meu contexto pessoal. Desviadas, estreitadas, dissimuladas. No momento em que a falta de respostas era a única resposta clara. No momento em que apercebia que transitar por um mar de contradições era a mais nova condição.

Entre esse momento, o filme foi luminoso para apoiar a repugnância à felicidade formalizada que tentam nos enfiar guela abaixo. Já notaram como a felicidade é dogmatizada? Basta ter várias coisas e ser outras poucas e pronto: um feliz sai quentinho do forno da vida. O filme fala sobre a (falta de) coragem de buscar a felicidade fora da receita pronta. Ana Maria Braga, pedimos benção ao seu bom humor matinal e sua felicidade sem fim...Aliás, tem muita Ana Maria em todo lugar. Merecem o mais puro sentimento de pena. Não há tanta sorte ou tanta felicidade enlatada nas prateleiras dos mercados! Pobres felizes enlatados...

O filme, que repete o casal de Titanic mas não sua historinha previsível, traz consigo uma riqueza de sentido que imperativamente nos faz questionar o universo que cerca nossas vidas. Esse circo no mais das vezes montado com peças falsas. O nosso xadrez diante da morte, em que não se vence com um xeque-pastor. Essa interrogação é mais vital e valiosa que a decisão entre Paris ou o gramado verde da simpática casinha branca. Extrapola também a esfera do teatro de relações pessoais e da hipocrisia da quase totalidade delas. Como andam raras as relações sinceras né?O filme fala, antes disso, da capacidade de suportar as verdades, essas criaturas que nascem demoniacamente com a lucidez. Viver como aquele que não somos, ou que ainda não somos, é também uma falta de consciência da necessidade de buscar a origem de nós mesmos e do que queremos. Por isso refiro que o filme trata da capacidade de suportar verdades, afinal, estamos preparados, de fato, para romper absolutamente com a “vida boa e digna” que nos vendem a todo momento? E a que preço? Ao mesmo tempo, a representação a que forçosamente temos que nos submeter diariamente é cansativa e maçante.
A náusea contida que se tem no final do filme é porque, de alguma forma, nos projetamos nos personagens e não sabemos bem se queremos ser o matemático “louco e lúcido” ou Wheeler “são e cego”, ou seria, ao contrário, um “são lúcido” e um “louco cego”. Deixar a tradição nos ensinar pelo tropismo das condutas sua velha felicidade e chegar ao crepúsculo com a mesma “vontade de silêncio” ou revolver o chão das pseudo-certezas? O fim do filme é uma tijolada na cara: tudo que o velho homem queria era não ter que escutar mais as idiotices da velha rabugenta que tinha casado a sabe-se lá quantos mil anos atrás. É o único filme em que o coadjuvante vira protagonista. Dá pra lembrar de outro ótimo filme: “Into the Wild”, que também fala sobre rupturas e coragem para fazê-las. Se tivesse essa coragem que aparecem raras até nos filmes (claro, queremos ver o José Mayer comendo aquelas gostosas...quem duvida que o José Mayer seja feliz?) estaria eu fazendo as malas...só não sei para onde...

sábado, 17 de outubro de 2009

Anima em tormentos


TRISTEZA,
por Gladis de Fátima Ferrareze, por obséquio, minha querida mãe!

Onde está a alegria que morava aqui?
Não sei.
Ninguém sabe, ninguém viu.
Será que cansou?
Será que é uma só para tantos,
Obrigando-a a perambular,
sem parada,
deixando alegres uns e
tristes outros?
Ou será que em cada um
ela habita,
sem ensinar o segredo
da vida própria?
Não sei.
Alguém sabe?
Alguém viu?

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

O frio é um deserto sem estufa!


ESFRIAMENTOGLOBAL

Em dois séculos o absurdo total:
mandaram “ser” à Marte,
e aqui feridas abertas com sal.
Em Terra o mito do desastre:
de férias na Polinésia, “comprar”,
filho de “deuster”
não precisa mais de filtro solar.
É que agora em Marte
esticou o sol seu calor e sua arte.
Enquanto a Terra fria escurece,
o dia em Marte é uma eterna tarde.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Educação dionisíaca

Excelente texto do amigo Warat, utilizado como ponto de partida (e chegada) nos cafés filosóficos dos dias 9 e 10 desse mês em Buenos Aires!



Lo real no es verdadero, se conforma con ser

Es el disparador que figura en el comienzo del libro de Mafessoli “Elogios de la razón sensible”
¿Que me sugiere?. Lo primero, que a mi me sugiere,. es que esa existencia conformada únicamente con ser es,siempre y para todos los miembros de la especie , inaccesible. Únicamente sujeta a aproximaciones hermenéuticas y semióticas que nos permiten tener una representación de ese real que se nos impone como
inaccesible. Trabajando hermenéutica y semiológicamente con el obtendremos un real construido como representación del real inaccesible
Confrontados desde los orígenes más o menos civilizados de nuestra especie animal nos fuimos eludiendo con una sucesión de grandes relatos: cristianismo, judaísmo, marxismo, liberalismo, racionalismo, que no pasan de grandes incuestionabilidades ideológicas y estratégias de dominación que culminan con la biopolítica. A todos estos factores los llamamos engañosamente grandes valores culturales de la modernidad ,por un lado, y por otro, verdades científicas . Sumados ambos vies nos encontramos con la racionalidad del modelo de mundo de la modernidad.
Termino de describir la cartografía de elementos que organizaron y cristalizaron el modelo educacional del paradígma moderno, empeñado en pasar a los estudiantes esos grandes valores y las argumentos y valors puestos fuera de discusiòn en la modernidad, junto al crisol de sus verdades.
Pero el paradígma moderno ya no tiene mucha confianza en si mismo y la concepción educacional de la modernidad tiene poco que ver con una juventud que casi antes de saber hablar sabe operar una computadora. Una sociedad de bebés que mezclan mamaderas con circuitos de la WEB emerge delante de la mirada de educadores que aprendieron a habar con radio Belgrano o escuchando las andanzas de un cacique Guaraní que insistiendo en ciertos valores no negociados facilito la escalada genocida de españoles y portugueses. O prestando sus oídos a la voz de Carmen Mirando o Maysa Matarazo en las radios cariocas.
Hoy tanto los jóvenes embebidos de caminatas digitales o los nostálgicos educadores que fueron jóvenes con Maysa Matarazo están hoy implicados en nuevas emergencias de la razón y de la sensibilidad que el modelo educacional hegemónico y obsoleto no puede satisfacer mínimamente. Educativamente todo es lastimosamente trivial y, por lo general, inútil.
Existe un establishment educativo es un estado de espíritu que tiene miedo de afrontar lo extraño, lo desconocido, lo inesperado y la propio animalidad de la especie
La peor de las barbaries que nos afecta es el estado de espíritu que emerge de lo que se considera establecido desde siempre y para siempre.
Las verdades están contaminadas por ese estado de espíritu que las ve como afirmaciones con escasismo riesgo de perecer, es lo imperecedero.
La verdad es un significante que me incomoda, supongo por ese espíritu de una eternidad que precisa ser conservada a toda costa. Ese espíritu o tendencia al statu quo que me molesta, y mucho en las verdades, sobre todo cuando son instrumentalizadas desde la educación.
Las verdades que un maestro predica, además suelen estar contaminadas de soberbia, de curriculum lattes de luchas académicas, de alianzas mafiosas, de pactos de mediocridad.
La lección de las cosas, en su hermenéutica da inaccesibilidad, es sustituida por un normativismo beato, que va mas allá de lo jurídico como llamada pueril a facilismos y encantamientos como el Estado de derecho o visiones de los derechos humanos apoyadas en idealizaciones ideológicas, que en el peor de los casas, ambas, no pasan de apelos hipócritas.
Todos estos juegos de la razón que nos condena disciplinariamente podrían ser agrupadas sobre la denominación de educación apolínea .Una educación que pide a los gritos que la cambien y la dejen morir
La sustitución precisa ser radical, el cambio apuntar a una educación dionisiaca que nos aleje de los moralismos, las hipocresías, las creencias disciplinadoras, que sea capaz de comprender lo nuevo, abrirnos para una sensibilidad generosa que no se sorprenda con nada, principalmente con lo nuevo que esta llegando. Un saber capaz de concederle al caos el lugar que le corresponde, que de repente es mayor que el de las verdades. Un saber competente para trazar la cartografía de las cosas imprevisibles, sorpresivas aparentemente no racionales, de los ingredientes patafísicos, de la presencia de lo cósmico y mágico, del desamparo y de las otras formas de lo trágico, que están mucho mas cerca de la condición humana que los ingredientes que pueden ser controlados por los modelos de la lógica racional en exceso Eso nos torna menos ilusos frente a un mundo en agonía ,que se torna ciego frente a todo lo que agoniza, obstinandose en adornar su crepúsculo con las candilejas de la edad de oro;engañandose con un alba que es solo un artificio
La concepción educacional dionisíaca no tiene que tener miedo de aceptar la incertidumbre, la contradicción, el azar, el desorden, el real magico ,los modos de ser surrealistas de la convivencia popular ,todos como elementos simplemente humanos en la vía crucis del conocer.
La construccion de una cartografia dionisíaca (me molesta usar contradictoriamente como fuerza de expresion la palabra paradigma) que funciona como vision trasmoderna de mundo debe comenzar por una critica demoledora ,una critica a los martillazos , con la fuerza de un martillo que quibra las paredes mas solidas que construyeron las mistificaciones ambientales y las conceptualizaciones de un racionalismo obsoleto..Ser capaz de destruir para que lo que tenga que nacer pueda crecer con toda libertad.Inclusive tener la desenvoltura patafisica de emitir paradojas Despues ya se vera.
La pedagogia no es un placebo.La funcion de los educadores no es la de recetar tranquilizantes, es la de despertar la sensibilidad la creatividad, y la estetica de la otredad.
La descripcion de los fenomenos sociales no tiene porque ser unicamente un problema sino tambien una plataforma a partir de la cual va elaborarse un ejercicio de pensamiento que responda a las audaces contradicciones de un mundo en gestación, Tiene que ser una plataforma de fortalecimiento de la subjetividad ,en un trabajo de resiliencia e logoterápia
Tambien implica pensar con distanciamiento del poder y con desmesura para trasbordar surrealisticamente los lugares comunes.
Mi modelo educacional dionisíaco tiene que ver en sus origenes con la ciencia juridica y sus dos maridosy con una vieja comunicación que presente en el cuaro congreso de ALmed en Rio de Janeiro.intitulado La pedagogia del deseo, ahi por el año de 1976
Al estar alejado de los diversos ideales dominantes y universales, al estar enraizado en lo corriente ( que es estructuralmente polisemico y paradojal) ,contiene siempre sentidos que se modifican diariamente ,que se experimentan y viven al dia ) el saber dionisiaco es un saber erotico que ama al mundo que describe y permite vislumbrar lo plausible, lo posible y lo que deseamos soñar de las situaciones humanas.
El cartograma dionisíaco pretende superar las acostumbradas categorias de un cartesianismo que a engendrado la visión de un mundo contractual ,regido por un voluntarismo racional. Para el cartograma dioniíiaco no es nada interesante la preocupacion por saber de donde viene la crisis del burguesianismo, ,lo que importa es es preguntarse por la energia y la sensibilidad social , una energia que no se centra mas en el productivismo ni el activismo.
Asi como Descartes balizo las condiciones del paradígma moderno necesitamos,ahora, alguien que balise los caminos de la trasmodernidad
apostando en una literatura, en un arte de creracion y no en una literatura o un arte comercial Un a apuesta en el arte educativo El arte y la litrratuura comercial es siempre la vulgarizacion de los tonos de antes de ayer
La descomunicacion que desarrolla actualmente los medios de la modernidad niegan la importancia de lo vivido Eso debe ser recupeado Recuperando la importancia del si a la vida que todo la modernidad se obstina en negar
Lo cartografico dionisíaca es una mirada de proa ,una mirada semajante al del vigia de proa encargode de ver anticipadamente los primeros perfiles de los territorios desconocidos, de los territotios que estan nevegando las caravelas para descubrir esos mundos nuevos Es una mirada muy incierta en terminos de contornos , de lo que falta para lograrlo ,del trayecto que se debe comenzar a realizar.
Hasta que punto lo cartógrafico dionisiaco exige quemar las naves y que el antiguo mundo que esta detras de nosotros no puede funcionar como sueño de retorno.
El pensamiento establecido es un estado de espiritu La actitud puramente intelectual se contenta con discriminar y olvida que la existencia es una constante participacion mistica, contradictoria , cargada de referencias a los ancestrales ,Lancelot retornando permanetemente a lo cotidiano para hacer de las ciudades modernas una nueva Camelot.
Finalmente la coincidencia de los opuestos es el punto de partida de la otredad


Luis Alberto Warat

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Pois é...

Essa poesia é fruto de uma troca de emails com uma amiga recém chegada que conheci em São Paulo. Ana, depois de tanto dizer, ficamos, pelo menos, com uma poesia irritante. Ainda assim, eu também passo!


GENTEQUEPENSA

Gente que pensa é quase redundante.
No fundo de suas notas densas,
são prolixos em seus achaques pensantes.
Falam tanto. Escrevem tanto. Irritam tanto.
Vestem os léxicos copistas dos livros das estantes.
Gente que pensa grita tanto, é contra tanto.
E acabam sentenciando meros adágios errantes.
Essa gente acaba chata, inexata.
Aquelas letras coloridas,
agora gemidos queixantes.
Enquanto suas mentes altas voam
num mundo quase infante,
perdem rios de felicidade para almas ignorantes,
essas que sabem nada e conseguem tudo sem o mesmo nada.
E os livros clássicos sempre lidos,
seguem a não responder nossos problemas chocantes.
Mas essa gente que pensa é insistente.
Vivem em caminhos paralelos,
em morfinas de planetas distantes.
Essa gente acaba chata, ingrata, irritante.
Durante uma vida, este pequeno instante,
que o ignorante tem prazeres de amante,
essa gente que pensa acaba mórbida, confusa e delirante.
E se morrem para fazer os que não pensam,
pensar que estão pensando.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Lars von Trier: caos e dúvidas em Anticristo

Os ceguinhos do castelo dirão: uma porcaria, quero meu dinheiro de volta! Nada mais normal quando se tem pouco para projetar em coisas que não tem nada de óbvio ululante, artisticamente falando, claro. O último filme do dinamarquês Lars Von Trier é uma caldeira de dúvidas. Terror, sexo, mitologia, mutilação genital e psicologia são algumas palavras que poderiam resumir o filme entitulado Anticristo. Talvez pela minha atual proximidade ao tema, saltam aos olhos os símbolos psicológicos e a aparição dos arquétipos animus e anima, lembrando fortes traços da teoria junguiana. Conhecer um pouco de ocultismo da idade média é também essencial para compreender algumas sequências do filme. Afinal, está Freud morto? E qual o tom da crítica lançada no filme? Se é que de crítica se trata...
Sem sacar o privilégios dos que ainda verão o filme, trata-se de uma obra despegada de convenções. Se espantarão aqueles que não tem uma mínima familiaridade com a libertinagem. Também os descendentes dos imortais moralistas europeus católicos do século XVIII e XIX. Sim. Sade também dá as caras nas entrelinhas. Entre Eros e Tanatos, o filme apresenta-se bruto. Do loirinho que despenca de cabeça da janela enquanto os pais transam ao cervo parindo um filhote natimorto, que, ao invés de nascer, fica pendurado em meio aos restos de placenta e sangue embaixo do seu rabo; da raposa dilacerada anunciando que "o caos reina" à masturbação convulsiva da personagem, possuída em meio ao húmus da floresta.

O desespero e o caos são retratados na relação do homem com a natureza. Com suas próprias naturezas selvagens. Mostrando como quer Jung que temos algum caldo histórico coletivo em tudo aquilo que nos toca e nos remete ao genuíno de nossas psiques. Lembra-se do velho e tão atual niilismo de Nietzsche. Do vórtice da vida posmoderna. Enquanto tudo é gozo, o mundo se deprime. E ficamos sem responder (pela cabeça de von Trier) se Freud é apenas um homem das cavernas que fez do quadrado uma roda e que agora é obsoleto na tecnologia dos carros de luxo. Sem os venenos dos sectarismos, é um filme líquido, diria Baumann. Não há respostas aparentes. Não há preto no branco. Não há!

A personagem observa a queda do próprio filho no mesmo momento que chega ao orgasmo transando - em camera mais que lenta - com seu marido. Essa não é uma crítica de cinema, mas um convite a não compreensão. Ficar pensando sobre o que queria von Trier, é um bom exercício, afinal, o próprio diretor afirma que fez o filme para ele mesmo e que foi vital para curar uma fase depressiva. Logo, é quase um feixe de elementos inconscientes do próprio diretor, o que torna, por essa simples razão, instigante. Compreender na totalidade? talvez impossível até para o terapeuta de von Trier. Afinal entender em linhas exatas não importa. Bendito Pessoa "O essencial da arte é exprimir, o que se exprime não interessa". Em Cannes foi amado e odiado. Aqui encantou e deixou graciosas dúvidas. Novas descobertas. Nada como dúvidas suculentas!

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Talvez clichê, talvez bons enlaces de Chico Xavier !


VIDA,
é o Amor existencial.

RAZÃO,
é o Amor que pondera.

ESTUDO,
é o Amor que analisa.

CIÊNCIA,
é o Amor que investiga.

FILOSOFIA,
é o Amor que pensa.

RELIGIÃO,
é o Amor que busca Deus.

VERDADE,
é o Amor que se eterniza.

IDEAL,
é o Amor que se eleva.

FÉ,
é o Amor que se transcende.

ESPERANÇA,
é o Amor que sonha.

CARIDADE,
é o Amor que auxilia.

FRATERNIDADE,
é o Amor que se expande.

SACRIFÍCIO,
é o Amor que se esforça.

RENÚNCIA,
é o Amor que se depura.

SIMPATIA,
é o Amor que sorri.

TRABALHO,
é o Amor que constrói.

INDIFERENÇA,
é o Amor que se esconde.

DESESPERO.
é o Amor que se desgoverna.

PAIXÃO,
é o Amor que se desequilibra.

CIÚMES,
é o Amor que desvaria.

ORGULHO,
é o Amor que enlouquece.

e finalmente o
ÓDIO,
que julgas ser a antítese do Amor,
não é senão o próprio Amor,
que adoeceu gravemente.

Chico Xavier

domingo, 4 de outubro de 2009

Mercedes Sosa: o que resta das almas geniosas

Pelo blog de Érica, descubro a morte de Mercedes Sosa. E passei a sentir saudade de uma pessoa que sequer conheci. E me ocorreu uma dúvida: será que as linhas do destino se encarregam de recompor entre as presenças humanas, almas tão capazes como de la negra? Uma vazia sensação de que esta resposta é negativa, acaba por me comover um pouco mais. Pouco sei da história de Mercedes. Pode ser que fosse uma gorda fedorenta. Pode ser que fosse uma chata de carteirinha. Dela não sei absolutamente nada. O que sei é apenas o que meus ouvidos foram capazes de perceber. A poesia e a voz potente misturadas com a caricatura pantagruélica, são tudo o que passarei a sentir falta.
Hoje mesmo, ao ler os escritos de Saramago em O Caderno e anexá-los com essa sensação de não pertencimento e alheamento que são inerentes nessa capital do mundo das dores que é São Paulo, pensei nessa conjuntura do destino e no que ele faria com a morte de Saramago. Escreveu ele, duvidando dos porquês de seus escritos e sobre a própria falibilidade do ceticismo, da sua inoperância ante o castelo de aço dos egoísmos capitalistas e outros contos críticos já conhecidos de sua literatura; que não bem sabia a razão de seus gritos literários. E me comprazi dessa gente que escreve e que no alto da senilidade tem a sensação de que seus escritos não tiveram a força que se imaginava. Isso tanto me preocupa na verdura dos meus vinte e poucos.
No alto de seus 87 anos, é provável que logo amarguemos a despedida de Saramago, assim como hoje se comovem os ouvidos abertos para a comoção com a perda de Mercedes. É preciso ouvidos dados à comoção para entender músicas de qualidade. Ou melhor, poesias musicadas. E aqui não se trata de criticar as músicas que nada dizem, pois que tem outro objetivo. E dizia o mesmo Saramago, que ainda não sabemos ser agraciado ou desgraçado pelo fato dos ares ainda perambularem pelos seus pulmões, que um seu amigo dizia que o motivo da vida era a mensagem que se deixava e as ajudas que podemos fazer aos outros. Acrescentaria eu, na humildade de minhas letras, também a ajuda que podemos nos conceder. A nós mesmos quando descobrimos o que desejamos, deveras, desta vida. De qualquer forma, o ceticismo do gênio lusitano por certo se propaga entre os multiplicados leitores de seus irônicos escritos. E ele, seguidor do conselho amigo, vai deixando seu rastro pelo mundo, que é o mundo das dores. Suas migalhas serão catadas por outros céticos como ele. Migalhas a sensibilizar outras gentes, tal qual a poesia sonada de Mercedes. A mesma Mercedes que hoje disse adeus ao mundo das dores e que cantava com a imensidão das suas graxas, deixou, entre tantas, uma mensagem quase óbvia sobre as mudanças: Cambia lo superficial, cambia también lo profundo, cambia el modo de pensar, cambia todo en ese mundo. É uma mensagem já conhecida. Algum filósofo antigo que não lembro o nome, já sentenciou algum aforismo com a mensagem de que a única coisa que não muda no mundo é a existência das mudanças.
E nesse domingo, com um ar de perplexidade pela pluralidade dos olhares, nós, que seguimos com ar a passear nos pulmões, perdemos Mercedes Sosa. Mas perdemos o que dela ainda viria e que, quiça, poderá voltar reencarnado em alguma outra gente. Perdemos isso. Porque a mensagem dela ficou: volver a sentir profundo! E vou dormir nessa dolorosa cidade, junto a estes milhões de consciências que amanhã ficarão quatro horas andando de ônibus no ir e vir do trabalho, estampando esse cenário tortuoso e que não têm sequer a possibilidade de pensar que podem sentir mais dor do que já sentem. Porque não podem sentir profundo. Porque devem ser máquinas sem profundidades. Macabéas à espera da morte. Provavelmente alheias ao próprio movimento cambiante do mundo. No mundo das dores é assim: uns morrem de verdade, outros morrem de mentira e poucos deixam alguma coisa que preste.

Mais poesias do meu baú inconsciente


TEMPOAOTEMPO

E com o tempo,
até o tempo mudou.
As horas, cansadas do barulho
dos ponteiros do relógio e do cuco
gritaram por anistia aos ventos
e com o tempo se tornaram meses
vivendo felizes para sempre nos
calendários de papel de
aproximadamente trinta dias.
Também o inverno, que já não era
um rapaz de vinte e poucos,
pediu um tempo para pensar
eis que tinha os sentimentos congelados.
Sua frieza era tanta que adoeceu e,
poucos dias depois de janeiro, gripado,
morreu de frio e de tristeza.
A lua, aborrecida com a condição
de espelho dos astros, pediu licença
às galáxias e saiu do palco montado.
Se tornou um estrela como as outras
e agora ninguém mais sabe aonde está.
O tempo mesmo, o tempo eterno e imortal,
perdendo partidários e adeptos,
esmoreceu e sentiu que era hora de partir.
Concedeu férias aos relógios de pulso e de parede,
das torres e capelas, os de bolso e o das estações,
os digitais e os analógicos e ainda outros;
despediu sem perdão os horários e as agendas,
esticou uns lençóis anacrônicos,
arredou as folhas mortas que faziam coçar as costas,
apagou as luzes do universo e dormiu, serenamente.

sábado, 3 de outubro de 2009

Coração em redes

QUESECHAMACORAÇÃO
Algumas vezes não posso ver nada.
Nada do que sei não é você.
Sigo teimoso tua estrada.
E me contento na foto que você me vê.

E vou esperar mais um ano.
Até o amor reconhecer.
E sentindo não me engano:
longe de ti não sei bem ser.

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Quando a OAB silencia...(Manifesto contra a cegueira - IV)

Este texto particiou do concurso promovido pela subseção da OAB de Passo Fundo com o tema "O papel do advogado na sociedade". Estranhamente, porém, não houve manifestação sobre o resultado do concurso. Duas possibilidades: ou esqueceram completamente do certame criado por eles mesmos ou estão entrando no castelo já denunciado neste blog!


DESFIBRILADORES, ÁCAROS E OUTROS ASSUNTOS JURÍDICOS

O cartesianismo nos legou a capacidade de criar categorias e apreender, no universo positivado das mórbidas palavras do Direito, o sentido semântico e o sentido sensível das coisas e das relações que envolvem os homens. O cartesianismo também foi a inspiração de Montesquieu, na divisão e atribuição dos poderes de um Estado já constituído e norteado para a proteção de algumas individualidades e para a promoção da solidariedade. Os projetos da modernidade, esculpidos como horizonte de sentido do Direito ocidental, fizeram dos pilares da revolução francesa – liberdade, igualdade e fraternidade – o sonho de estruturação de um Estado repleto de todos os atributos éticos e poéticos. Entre os caminhos da modernidade, a vontade de lei inspirada pelo positivismo de Comte, dividia espaço com a já clássica e sedimentada dramaturgia romântica de Shakespeare. Esses e outros incontáveis dualismos, foram, no trotar venenoso do século passado, esfacelados na constituição desse Estado que, ingenuamente, chamamos de democrático e que batizamos, de forma cega pelo ideal de justiça, de Direito.

Em que canto escuro restaram esquecidos os sentidos sensíveis que reavivam as próprias palavras? Em que sala vazia perdemos a solidariedade que vai do olhar do outro ao reconhecimento afetivo por simplesmente ser humano? Em que parte do caminho ficou a empoeirada sensibilidade poética dos românticos que hoje pouco habita o pobre imaginário jurídico? Não compramos mais as doces dramaturgias antigas. Cremos que os falsários eruditos da lei ainda doutrinam. Advogamos nossa própria tentativa de acesso a um paraíso neobárbaro que sequer nos oferta o gran finale prometido. E novamente esquecemos que deveríamos esquecer essas tolices que nos vendem. E cruzamos, sem lucidez, a estrada mundana. Sem olhar os paralelos da história e seus anônimos personagens. Sem experimentar a delícia da travessia e a redenção na alteridade.

Em algum dado momento de nossas páginas passadas, a história, que sempre é a história dos homens, foi sedada por alguma funesta toxina. Nós, que nos denominamos antes de humanos, juristas, também não conseguimos escapar dessa letalidade que corroeu os sentidos dos homens durante os tempos. Mas então, inquietantemente, devemos nos perguntar: quem foram os vencedores desse desvio proposital da história do Direito e das gentes? Foram eles: os ácaros e os ingênuos. Os ácaros jurídicos, porque desde o nascimento de um Direito morto por uma falsa doutrina, vivem felizes para sempre nas bibliotecas jurídicas com velhos e novos livros velhos. Os ingênuos, porque ainda hoje conseguem acreditar que alguma coisa fora de suas consciências amortecidas pode lhes trazer benesse, redenção e felicidade. Quanta inveja se alimenta da felicidade ingênua dos ingênuos. Nossos ingênuos juristas, humanos juristas, ingenuamente sustentam um ego permanentemente bêbado para manter a lógica de seus “ismos” já gripados, por certo, suinamente.

Perplexos, alguns perguntarão: mas e o advogado? E o papel do advogado hoje? Sem a hipocrisia dos falsos louros e da gravata polpuda, também legados por nossa fidalga história, devemos nos decretar moralmente infectados. Como todos. Não se trata, episodicamente, de estabelecer novamente a la Descartes, um rol de funções, atribuições ou qualquer “papel” que o valha. Trata-se de algo complexamente simples: curar o torcicolo que nos impede de olhar os tristes olhares que nos circundam, todo o resto e suas conseqüências, depende disso! E nós advogados, já devíamos, malandramente como manda a tradição, ter sacado essa história toda. Devíamos aceitar os, deveras escassos, desfibriladores de sensibilidade que tentam reanimar o sentido humano desse coma histórico. A se seguir teimando com suas egoístas verdades, humanos e procura-dores-de-humanos, presenciarão em um breve futuro, ritos fúnebres pomposamente jurídicos: com direito a chuva de alvarás em câmera lenta na descida dos caixões que levarão os, agora, procura-dores celestiais.